quinta-feira, janeiro 13

Condenados a ser livres!

"Não somos nem mecânicos, nem possessos; somos piores: livres." 
Assim J-P Sartre comenta a trama do livro 1919 (de John dos Passos). Nem somos autômatos cartesianos - artefatos criados à semelhança de relógios, fontes, moinhos e outras máquinas - cujas cabeças possuem uma glândula, um ponto de intersecção de muitos tubos que levam as forças controladoras dos seus movimentos, como uma mola que dá vida ao conjunto; produtos de uma indústria exata, cuja economia interior está desde sempre já dada. Tampouco somos possuídos por uma vontade, uma paixão (no máximo uma paixão inútil, como disse em outro momento), ou um conatus (como insistiu em O ser e o nada) - uma força-impulso metafísico disfarçado detrás de seus efeitos.
Somos livres, simplesmente: embora determinados historicamente, datados, enformados pela língua, efeitos ideológicos. Contudo, isso nada deve nos impedir de dizer: "eu". Sem sermos livres nada podemos responder frente a lei; o direito nada pode contra ou a favor de um sujeito que não é livre. Foi o caso do negro em tempos de escravidão - nada devia à lei ou à sociedade e à religião (do seu dono), porque escravo. Se o sujeito é determinado de ponta a ponta, a norma não se aplica, uma vez que ele está pronto e sua vida é perfeita, mecânica, automática, não exigindo nenhuma norma para suas condutas; estas são conhecidas e irretorquíveis; nem há um sujeito que reclame a diversidade, o singular - ou resista a empastelação ideológica.
Mas não é o caso. A lei, as regras, os regimentos devem dar conta de um sujeito que não é máquina ou possuído; agente livre, perigosamente a deriva, só fazendo o que deve fazer sob coação - primeiramente da tradição e depois pela norma.
Sujeitos de direito, livres para fazer o que quisermos, por isso determinados pela norma e pelo político; condenados à liberdade, somos mais que um autômato ou pulsão, entretanto menos que o político. O que será que isso pode nos dizer? Vejamos isso noutro tempo...

FREUD - GRUPO DE ESTUDOS

  1 – Dos livros: vamos ler a publicação das “Obras Completas de Freud", da Companhia das Letras, tradução do alemão, que por sua vez, ...