quarta-feira, julho 22

Bíos e Zoé!

"Os gregos não possuíam um termo único para exprimir o que nós queremos dizer com a palavra vida. Serviam-se de dois termos, semântica e morfologicamente distintos, ainda que reportáveis a um étimo comum: zoé, que exprimia o simples fato de viver comum a todos os seres vivos (animais, homens ou deuses) e bíos, que indicava a forma ou maneira de viver própria de um indivíduo ou de um grupo. Quando Platão, no Filebo, menciona três gêneros de vida e Aristóteles, na Ethica nicomachea, distingue a vida contemplativa do filósofo (bíos theoreticós) da vida de prazer (bíos apolausticós) e da vida política (bíos politicós), eles jamais poderiam ter empregado o termo zoé (que, significativamente, em grego carece de plural) pelo simples fato de que para ambos não estava em questão de modo algum a simples vida natural, mas uma vida qualificada, um modo particular de vida" (Agamben, O poder soberano e a vida nua - I,2007).

De fato, ainda usamos o singular para significar "a vida" em termos de energia vital, se quisermos ser o mais rigoroso possível ao separar a vida estética, o discurso, a vida como laço social, daquilo que comumente dizemos por tempo de vida; mas também usamos vida, no singular, para representar toda a saga de um pessoa pelo mundo ou mesmo suas vivências mais íntimas etc. Podemos dizer que vida neste sentido é a biografia, a cultura ou a coleção de desejos de um indivíduo em particular. Mais a frente, Agamben tenta nos informar que contemporaneamente, a vida enquanto fisiologia é que está cada vez mais em questão e não as biografias... De que trata esse "retorno" à pele? Parece que cada vez mais nos importa o "renew" de certa marca de cosmético, em detrimento dos platonismos: consciência, responsabilidade, prazer estético, contemplação, vida política, profundidade da alma... Talvez já não nos curvemos - para o bem e para mal - à ditadura platônica do conhecimento acima de tudo. O que será que isso pode nos informar e aonde nos levará? Espero (como se fosse um platônico, o que não sou) que isso nos leve a um materialismo sartriano. Depois tentarei me explicar.

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