sexta-feira, julho 10

O homem não coincide consigo mesmo!

“O homem não coincide consigo mesmo” (Dostoiévski), citado em Situações I, de Sartre, na introdução de Bento Prado Jr. (Sartre e o destino histórico do ensaio). Concordo, em princípio, mas não tenho certeza de que na mesma perspectiva de Dostoiévski. Esse “si mesmo” que nos traz vem de um homem que disse que se Deus não existe, tudo é possível, no sentido que aí então se instala o sem sentido, a anomia, o caos – portanto, um homem profundamente cristão e teísta (veja a definição de teísta aqui mesmo em postagem anterior). Me parece a própria condição humana, a de não coincidir consigo mesmo; mas deixe-me precisar: o sujeito não coincide consigo mesmo por que não há um si mesmo substancial, empírico, epistêmico para que ele seja o mesmo, um em-si, quero dizer que o homem olha para si e não vê a si mesmo, por que não é uma coisa. Esse si mesmo é um efeito ideológico (nos termos de Althusser, Pêcheux, Orlandi), um construto histórico, uma ilusão referencial. Um teísta deve acreditar que o homem é uma substância, e que se não coincide consigo mesmo é por causa dessas trágicas experiências que advém do livre arbítrio insuflado no homem por Deus. Mas, pelo menos em tese - se tudo correr bem - se acreditar em Deus acontecerá de lhe ser revelado Deus – coincidindo consigo mesmo! Bem sei que essa é uma heresia! A revelação cristã não faz coincidir o cristão com Deus, mas o que levanto aqui é que se houver uma coincidência de substâncias é por que então a criatura coincide com o criador. Enfim, há muitas críticas ao que argumento aqui. A mais elegante de todas é de que sou espinosista... É chique, e educado, mas não chega perto do que estou tentando dizer... O sujeito de que falo é efeito da história, contudo é um efeito de profundidade, onde até sua certeza de que é um si mesmo é produto do frigir das forças ideológicas.
Se o homem não coincide consigo mesmo, isso não se dá por um dificuldade especial para que entre em contato com sua verdadeira essência; mas sim por que não há uma verdadeira essência a ser atingida. O que não quer dizer que o homem não possa se sentir verdadeiro, intenso, consistente (mesmo sem substância), o que merece outras linhas...

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