quinta-feira, outubro 4

Considerações sobre propaganda política!

Antigamente me causava estranheza, depois me causou raiva e atualmente me causa preocupação a propaganda política. É incômodo saber que aquele que tiver mais dinheiro, pagando a melhor equipe de marqueteiros da cidade, tendo dinheiro para pagar tudo quanto é espaço publicitário - de jornais à porta do carro de cidadãos - seguramente terá as melhores chances de se eleger ou reeleger. Não importa se o candidato tem ou não condições técnicas, morais e intelectuais para trabalhar pela cidade, o que importa é o tamanho da inundação dos espaços sociais com toneladas de santinhos, banners, outdoors, placas, isso sem contar com a tevê e radio e sem mencionar a internet e mensagens pelo telefone. Quando me refiro a trabalhar pela cidade, estou sempre fazendo junção cidade/cidadão, pois para mim cidade e cidadão formam um só corpo, sendo literalmente impossível separar um do outro. Ora, nessa medida, os vereadores e o prefeito deveriam trabalhar para que essa corporeidade constituída de "eus", "território", "casario", "edifícios", "leis", "prefeitura", "câmara legislativa", "fóruns de justiça" "delegacias de polícia" etc, de fato funcionassem o melhor possível como um corpo.
A propaganda política deveria ser espontânea, com o eleitor indo até os comitês ou até os candidatos, apresentando-se, voluntariamente, para fazer propaganda do seu candidato preferido. Sem pedir dinheiro para as custas de gasolina, lanches e outros gastos inevitáveis. Sem pedir diária ou salário. Com isso o cidadão teria que se interessar, de fato, pelos destinos de sua cidade - que é seu corpo, sua casa - procurando os candidatos para dar seu apoio às suas ideias e trabalhar por sua eleição.
Mas, me perguntariam, como o cidadão saberia quem é candidato e quais são suas plataformas de governo ou de princípios, se não fizerem propaganda para que sua imagem apareça na praça e, com isso, os eleitores possam escolhê-los entre muitos? E também se pode fazer uma crítica a esse modelo: a de que os mais ricos apoiariam seus candidatos com muito mais oportunidade de influenciar pessoas e eleger aqueles que poderiam montar um esquema corporativista no poder. Com isso, ficaria tudo como está, o que é verdade! De fato, isso já acontece hoje e a ida espontânea dos cidadãos aos seus candidatos nada mudaria esse cenário.
Concordo, mas pelo menos um ganho a república e a democracia teriam, e por extensão a condição cidadã melhoraria. As pessoas fariam política ampliando suas reivindicações, conquistando força moral e, embora ainda com o mesmo problema de cartelização política e fisiologismo, agora já quer e pode sair à rua na forma de "povo" e não apenas na de "população". Penso que ganharíamos na forma de enriquecimento pessoal, de dignidade moral, embora isso ainda não seja sinônimo de justiça social. Mas também penso que isso é um melhor começo do que ficar à mercê de política de gabinete, e de época eleitoreira. No mínimo, a gente teria que fazer política por todos os quatros anos do mandato daquele que apoiamos - fiscalizando e cobrando onde, como e em quê está sendo gasto nosso dinheiro e notificando, numa rede extensa e forte, os cidadãos. Parece mais cidadão aquele que se interessa pela constituição, produção e circulação dos poderes do povo. Não adianta dizer que o poder emana do povo! Poder é "poder dizer", é discurso - e é dizendo, e dizendo muito e sempre, que se produz um possível "poder dizer" do povo. Embora o discurso - o poder - constitua o cidadão, há espaço (pois o discurso sempre falha, um pouco que seja), para que o cidadão interfira no discurso, na forma de povo.
A produção do poder é da conta de todo cidadão. Sem sua participação, o poder fica sem dono, melhor dizendo, passa a ser do Estado, um poder municipal, por princípio, com seu séquito de serviçais. O poder, que originalmente é do povo, passa a ser um meio de botar o povo a serviço do Estado, sem retorno sobre o povo. A circulação do discurso - do poder dizer - deveria ser regida pelo cidadão, que influenciaria nas urnas, por meio de sua palavra, lá no bairro em que mora. É necessário, senão fundamental, que o poder seja dividido, sem o qual nossas garantias de lei, a constituição e os direitos humanos podem sofrer graves lesões.
Com todas essas dificuldades, o meio termo parece sensato. O cidadão não deve seguir cegamente a publicidade dos candidatos, escolhendo aquele que mais aparece, mas também pode experimentar conhecer e apoiar novas lideranças sociais e isso acontece por meio da propaganda. As eleições podem ser esse momento, mas acredito que as escolhas dos candidatos deveriam ser realizadas, como referi acima, no correr do mandato e também na interessada observação das lideranças que surgem no ferver da vida social.

FREUD - GRUPO DE ESTUDOS

  1 – Dos livros: vamos ler a publicação das “Obras Completas de Freud", da Companhia das Letras, tradução do alemão, que por sua vez, ...