segunda-feira, novembro 26

NINGUÉM, ATÉ AGORA, DETERMINOU O QUE PODE UM CORPO!

A frase do título - eu a li quando tinha dezessete anos na Ética de Spinosa - jamais deixou de fazer efeito em meus dias, no meu trabalho (de desenhista a artista marcial, de terapeuta corporal a psicólogo). Sempre me refiz a pergunta do filósofo, esperando afirmar que sim, que conhecemos o poder do corpo e que podemos atuar nele e com ele. Apesar de todo o trabalho que tive em inventariar os poderes do corpo em várias culturas e práticas terapêuticas - do Sâmkhya Sádhana indiano ao bioenergeticismo reichiano, da psicanálise do corpo às dinâmicas de grupo - o problema (ou solução!) do corpo permanece um nó a ser desatado (docemente se possível). Já inventei abordagens as mais variadas para entrar em contato com a riqueza do corpo na construção pessoal, entre elas a Terapêutica Sâmkhya: um composto de técnicas de si (ou arte de si) usando a ciência indiana do conhecimento do corpo sutil - que envolve trabalhar com os marmas, centros energéticos que distribuem energia por todo o sistema afeto-pensamento-memória.

Neste 2016 refaço as notas de pesquisas e dou mais um passo para chegar a uma resposta possível a Spinosa. Se não sabemos da totalidade dos poderes do corpo, pelo menos sabemos um a mais que pode ser a continuação desta longa e fecunda relação com o corpo enquanto um dos pivôs de nossa vida. Dai que proponho este Ateliê do Corpo, que trata de suas inteligências, na forma de uma abordagem teórico/prática ao corpo enquanto o sítio do estrangeiro, ou seja um lugar no qual, e a partir do qual, experimentamo-nos como estranhos a nós mesmos. Muitos de nós já nos deparamos com a sensação indescritível de viver algo que não nos pertence e que nos toma como se fosse de uma outra dimensão da vida, sendo poético. É disso que eu vou tratar nesse novo modo de abordar o corpo. Pois o corpo é um discurso do/no/com o mundo, em que está em jogo o sujeito e seus sonhos...

ATELIÊ DO CORPO!
O corpo é uma presença da qual não podemos prescindir em todas as situações do existir. O corpo é o ser de todas nossas possibilidades de existir; é um corpodiscurso, ou seja, é o ser que nos possibilita a subjetivação, o exercício da vida, o acontecer das leis. O corpo é campo do político e das polícias ideológicas. O corpo é um conjunto de afetividades.

Tendo isso em vista, apresento este Ateliê – a única palavra que pareceu-me incluir a ideia de uma ”arte de si” – fazendo uma abordagem ao corpo por meio de dinâmicas grupais, psicanálise do corpo, elementos das artes marciais e massagem Sâmkhya (tradição indiana).

Público interessado: Qualquer pessoa que deseja uma introdução ao “saber do corpo” e como o corpo participa da constituição do ego, da saúde, dos processos de adoecimento, da angústia e dos processos de subjetivação.

Participantes: até 08 pessoas

Objetivos gerais: A proposta é dupla: a) uma introdução aos sentidos de corpo desde a antiguidade até a atualidade ocidental (soma, cemitério, corpo como alma, máquina etc.) e conceitos orientais de corpo; saber o que pode o corpo na contemporaneidade, o que é experiência do corpo; relaxamento, consciência corporal, tolerância psicofísica, resiliência e corpo; ansiedade, traumas e angústia; concentração, meditação, contemplação; foco, medo, corpo como campo lúdico; intuição corporal, auto-estima, auto-observação; b) Uma vivência, na forma de experiências de ser corpo, reconhecendo-o como fonte do eu e suas faculdades de modificar a existência a partir da pele, dos órgãos, dos músculos e da postura corporal.

São seis ateliês, sendo que um deles será rural, com participantes dos ateliês urbanos. Para saber mais:


quinta-feira, outubro 4

Considerações sobre propaganda política!

Antigamente me causava estranheza, depois me causou raiva e atualmente me causa preocupação a propaganda política. É incômodo saber que aquele que tiver mais dinheiro, pagando a melhor equipe de marqueteiros da cidade, tendo dinheiro para pagar tudo quanto é espaço publicitário - de jornais à porta do carro de cidadãos - seguramente terá as melhores chances de se eleger ou reeleger. Não importa se o candidato tem ou não condições técnicas, morais e intelectuais para trabalhar pela cidade, o que importa é o tamanho da inundação dos espaços sociais com toneladas de santinhos, banners, outdoors, placas, isso sem contar com a tevê e radio e sem mencionar a internet e mensagens pelo telefone. Quando me refiro a trabalhar pela cidade, estou sempre fazendo junção cidade/cidadão, pois para mim cidade e cidadão formam um só corpo, sendo literalmente impossível separar um do outro. Ora, nessa medida, os vereadores e o prefeito deveriam trabalhar para que essa corporeidade constituída de "eus", "território", "casario", "edifícios", "leis", "prefeitura", "câmara legislativa", "fóruns de justiça" "delegacias de polícia" etc, de fato funcionassem o melhor possível como um corpo.
A propaganda política deveria ser espontânea, com o eleitor indo até os comitês ou até os candidatos, apresentando-se, voluntariamente, para fazer propaganda do seu candidato preferido. Sem pedir dinheiro para as custas de gasolina, lanches e outros gastos inevitáveis. Sem pedir diária ou salário. Com isso o cidadão teria que se interessar, de fato, pelos destinos de sua cidade - que é seu corpo, sua casa - procurando os candidatos para dar seu apoio às suas ideias e trabalhar por sua eleição.
Mas, me perguntariam, como o cidadão saberia quem é candidato e quais são suas plataformas de governo ou de princípios, se não fizerem propaganda para que sua imagem apareça na praça e, com isso, os eleitores possam escolhê-los entre muitos? E também se pode fazer uma crítica a esse modelo: a de que os mais ricos apoiariam seus candidatos com muito mais oportunidade de influenciar pessoas e eleger aqueles que poderiam montar um esquema corporativista no poder. Com isso, ficaria tudo como está, o que é verdade! De fato, isso já acontece hoje e a ida espontânea dos cidadãos aos seus candidatos nada mudaria esse cenário.
Concordo, mas pelo menos um ganho a república e a democracia teriam, e por extensão a condição cidadã melhoraria. As pessoas fariam política ampliando suas reivindicações, conquistando força moral e, embora ainda com o mesmo problema de cartelização política e fisiologismo, agora já quer e pode sair à rua na forma de "povo" e não apenas na de "população". Penso que ganharíamos na forma de enriquecimento pessoal, de dignidade moral, embora isso ainda não seja sinônimo de justiça social. Mas também penso que isso é um melhor começo do que ficar à mercê de política de gabinete, e de época eleitoreira. No mínimo, a gente teria que fazer política por todos os quatros anos do mandato daquele que apoiamos - fiscalizando e cobrando onde, como e em quê está sendo gasto nosso dinheiro e notificando, numa rede extensa e forte, os cidadãos. Parece mais cidadão aquele que se interessa pela constituição, produção e circulação dos poderes do povo. Não adianta dizer que o poder emana do povo! Poder é "poder dizer", é discurso - e é dizendo, e dizendo muito e sempre, que se produz um possível "poder dizer" do povo. Embora o discurso - o poder - constitua o cidadão, há espaço (pois o discurso sempre falha, um pouco que seja), para que o cidadão interfira no discurso, na forma de povo.
A produção do poder é da conta de todo cidadão. Sem sua participação, o poder fica sem dono, melhor dizendo, passa a ser do Estado, um poder municipal, por princípio, com seu séquito de serviçais. O poder, que originalmente é do povo, passa a ser um meio de botar o povo a serviço do Estado, sem retorno sobre o povo. A circulação do discurso - do poder dizer - deveria ser regida pelo cidadão, que influenciaria nas urnas, por meio de sua palavra, lá no bairro em que mora. É necessário, senão fundamental, que o poder seja dividido, sem o qual nossas garantias de lei, a constituição e os direitos humanos podem sofrer graves lesões.
Com todas essas dificuldades, o meio termo parece sensato. O cidadão não deve seguir cegamente a publicidade dos candidatos, escolhendo aquele que mais aparece, mas também pode experimentar conhecer e apoiar novas lideranças sociais e isso acontece por meio da propaganda. As eleições podem ser esse momento, mas acredito que as escolhas dos candidatos deveriam ser realizadas, como referi acima, no correr do mandato e também na interessada observação das lideranças que surgem no ferver da vida social.

terça-feira, setembro 25

PODAS DA DISCÓRDIA!


Através de nossa perspectiva não podia ser mais canhestra, inadequada e fora de hora a poda das árvores de Pouso Alegre. Sabemos quais são os argumentos da prefeitura, mas eles se sustentam no desprezo aos mais básicos princípios de relação com as árvores no século vinte e um. Alinhamos alguns argumentos, não em sequência de importância, uma vez que dependendo do olhar, um antecede o outro. Senão vejamos:
Foi atrasado o surgimento de uma infindável quantia de sementes, que verteriam dessas árvores, matando a fome de pássaros e seus filhotes. Faltou inteligência aos administradores da cidade, ao ordenarem a poda radical e não a poda de controle e direcionamento, quando a cidade precisa de sombra, oxigênio e filtro dos poluentes aéreos, exatamente no pico da seca (felizmente a chuva se antecipou à entrada oficial da primavera). Faltou senso estético quando podaram radicalmente essas árvores; um louco desvairado pode achar que a cidade permanece bela, ou que o cidadão gosta destes seres feéricos, descarnados, com seus braços desfolhados e erguidos para o céu (talvez pedindo por clemência ou que alguém explique a violência pela qual passam). 
A administração da cidade passa atestado de burrice estética, insensibilidade à vida e mesmo de violência social, pois sequer perguntou aos moradores sua opinião sobre essa poda atroz. Violência do poder, aliás, algo com o qual não podemos nos acostumar, senão será uma ditadura branca, onde ao cidadão não é permitido opinar sobre sua própria cidade. O argumento deste despotismo é que nós os colocamos lá para que nos representem, mas, a população não se sente de jeito nenhum representada nesta história das podas. Liste-se, também, a insensibilidade da prefeitura que pensa as árvores como mero adereço da cidade, atestado de burrice ecológica; como pensam que o ar vai melhorar com nossas árvores sem folhas?

Algumas sugestões:
As podas, nos casos em que são necessárias, devem ser de controle e direcionamento, com isso, preservando os galhos que não atrapalham o trânsito de automóveis e caminhões. Sugerimos também que o prefeito ou seus comandados, perguntem a qualquer dona ou dono de casa, como eles fazem jardinagem, uma vez que eles fazem isso por uma vida e têm experiência para orientar cuidados com as plantas de sua cidade. Os senhores administradores vão se surpreender com suas ideias. Sugerimos ainda que o prefeito desfilie da lista de partidos coligados o PV (Partido Verde), pois esses "verdes" estão acinzentando a cidade, já que não têm a menor ideia do que seja uma cidade sustentável. Por exemplo, nada sabem de árvores, nem nunca ouviram falar para que servem, uma vez que não intervêm, sugerindo outro trato com as infelizes vidas verdes. Não fosse assim, como permitiriam, ano após ano, essa sanha destruidora? Tiveram quatro invernos e quatro primaveras para observar os resultados desta prática insensata e, pelo daltonismo político por meio do qual vêem a cidade, jamais disseram palavras ao prefeito.
Na possibilidade do PV ter dito algo a respeito deste mau trato à natureza, e não terem sido atendidos, resta saber se prezam mais os cargos e salários, que suas supostas convicções políticas. Há a possibilidade de serem apenas paus-mandados e não deveriam se apresentar como parceiros do PT, como co-participantes do poder.
Quando falamos em "administração", "prefeitura", "PV", "PT", só deixamos as palavras sem os nomes próprios por traz delas, por respeito às eleições que se aproximam. Mas os nomes existem e têm corpo. Sabemos exatamente os cidadãos que lá estão, e traindo a confiança do eleitorado. É só procurar os órgãos competentes e temos os nomes destes irresponsáveis que insistem por se apresentar como administradores da cidade, sem a humildade de consultar o cidadão sobre suas opiniões e experiências.
Foto: vista da janela de meu consultório (25.09.12)

FREUD - GRUPO DE ESTUDOS

  1 – Dos livros: vamos ler a publicação das “Obras Completas de Freud", da Companhia das Letras, tradução do alemão, que por sua vez, ...