quinta-feira, fevereiro 18

Uma vida malograda!

[Pensou Mathieu depois de fechar a janela do quarto como se quisesse com o gesto encerrar sua história com Marcelle] ‘Muito barulho a toa, por nada. Por nada’. Essa vida era-lhe dada a toa, ele não era nada e, no entanto, não mudaria mais. Estava formado. Tirou os sapatos e ficou imóvel, sentado no braço da poltrona, um sapato na mão. Sentia ainda no fundo da garganta o calor adocicado do rum. Bocejou. O dia estava acabado e acabava sua juventude. Morais comprovadas já lhe ofereciam seus serviços. Havia o epicurismo desabusado, a indulgência sorridente, a resignação, a seriedade de espírito, o estoicismo, tudo isso que permite apreciar, minuto por minuto, como bom conhecedor, uma vida malograda. Tirou o paletó, pôs-se a desfazer o nó da gravata. Repetia bocejando:
- Não há dúvida, não há dúvida, estou na idade da razão. (Os caminhos da liberdade -1 Sartre, 1945).
Como evitar que minha vida malogre como a do Mathieu? Uma possível solução é a indulgência alegre do epicurismo desbragado. A outra é o estoicismo resignado, a severidade moral do cristianismo. Mas talvez haja uma seriedade hedonista, cuja ousadia de sorrir perante o horizonte do malogro existencial possa algo... Vejamos o que quero dizer com isto.

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