terça-feira, agosto 11

A divina comédia – canto I: “Surgiu depois uma loba muito mirrada e ameaçadora; ela guardava as ambições sórdidas que levavam muitos homens à miséria. Dominado pelo medo que seu terrível aspecto me infundia, acreditei que não seria capaz de chegar ao alto da colina... e nisso assemelhei-me ao homem que, visando em tudo apenas lucro, explode em pranto se perde em vez de ganhar.”
Sem tardar, ainda no início do Canto I, Dante já nos anuncia seu empreendimento: listar os grandes e pequenos pecados que movem a humanidade, e descrever, minuciosamente, os castigos que cada um merece pela perfídia cometida. Resolveu começar já localizando aquele tipo de gente “que sente mais fome, depois que come”, completamente abatidos pelo desejo “do ouro e do poder”. São feras que fazem gelar o sangue até de Virgílio, e jamais saciam o apetite. “Com muito seres semelhantes ela [a loba insaciável] se acumplicia, e assim continuará fazendo até que a enfrente o galgo que haverá de lhe dar morte medonha”.
Isso me lembra os especuladores da bolsa, os atravessadores, alguns senadores e uma legião de exploradores do erário. São as lobas dantescas, mirradas e ameaçantes, sangrando sem dó, concupiscentemente, sem um pingo de vergonha, a seiva monetária da nação.
Pena que Dante Alighieri tenha usado uma loba para representar tais energúmenos; creio que não haja outro ser vivo que possa representar a sede de ouro e ostentação de uns certos homens... deixemos a loba para, no máximo, representar aquela que alimentou os fundadores de Roma, cidade que, me parece, Dante não conheceu, vivendo em Florença, depois exilado em lugares e com gente que de certo modo reencarnou por aqui...

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