Saio do metrô e me dou conta de que chove! E muito! Sem guarda-chuva recorro a uma capa com seu capuz. O resultado foi bom, mas teria preferido parar num café para um chocolate quente. Não deu! Estava em cima da hora! Vendedores de sombrinhas, guarda-chuvas e capas brotam do asfalto molhado. Aos gritos tentam nos convencer que aquela chuva duraria o dia todo... E durou!
De certo modo me sinto confortável embaixo da capa onde dedilham pingos e seu barulhinho de xilofone desafinado. Agora é dormir numa noite mais fresca, úmida e os cães mudos...
Alguém inapelavelmente embruxado pelos livros, cinema, teatro e outras artes, não necessariamente nesta ordem. Daí estes fragmentos de experiências. levileonel@yahoo.com.br Veja Também: https://avidanaserradocervo.blogspot.com https://psicologonobrasil.blogspot.com https://ateliedecorpo.blogspot.com
quarta-feira, novembro 25
segunda-feira, novembro 23
“Não te aflijas! O amor é mero acaso!”
Bret tem as mãos de Cyrano entre as suas, comovido pela tristeza deste com sua desdita: um nariz por demais aparente, uma protuberância inaudita, um imenso membro no meio da cara, separando os olhos amiudados frente a tamanha deformidade. Tentando abrir em Cyrano alguma brecha para a crença no amor e que Roxane poderia ama-lo, apesar do nariz infernalmente atrevido, diz-lhe, com toda a sinceridade que pode reunir em si: “Não te aflijas! O amor é mero acaso!”
Não é a toa que dizemos que o amor é cego, talvez surdo; mudo certamente não! O amor carece até de inteligência! Talvez por isso Bret diz que o amor é uma sorte, um inesperado, uma fatalidade até, quando o coloca como obra do acaso. E dizemos, também, que a quem ama o feio bonito lhe parece, e é nisto que Bret aposta. Quando aquela mulher olhar para Cyrano, mesmo com aquele maldito vaso nasal, seu hilário apêndice olfativo, poderá acontecer um milagre e simplesmente amá-lo. Sem prestar atenção em sua tromba arreada, olhar para seus olhos honestos, ansiosos pela “ilusão celeste”, e deixa-lo fruir de sua graça, de sua alvura, de seu aveludado.
Antes disso, porém, Cyrano de Bergerac, inflado pela perspectiva do encontro com aquela mulher, sentindo-se mais forte que um Hércules ou Sansão, irá colocar Lignière em sua cama, um pobre trovador bêbado. Entretanto, até que venha a colocar o homenzinho descansando da bebedeira, no aconchego de sua casa, Cyrano terá que lutar contra cem homens. Aqueles mesmos que querem impedir o cantor de entrar em sua casa. Sai pelas ruas de Paris, perto do Sena, eufórico, invencível, ao encontro de seu destino...
“E haveis de assistir... ao que haveis de assistir!” Diz, um pouco sem palavras para definir sua senda. Viver, para Cyrano e para nós, tem muito de acaso... aquele mesmo do amor.
Não é a toa que dizemos que o amor é cego, talvez surdo; mudo certamente não! O amor carece até de inteligência! Talvez por isso Bret diz que o amor é uma sorte, um inesperado, uma fatalidade até, quando o coloca como obra do acaso. E dizemos, também, que a quem ama o feio bonito lhe parece, e é nisto que Bret aposta. Quando aquela mulher olhar para Cyrano, mesmo com aquele maldito vaso nasal, seu hilário apêndice olfativo, poderá acontecer um milagre e simplesmente amá-lo. Sem prestar atenção em sua tromba arreada, olhar para seus olhos honestos, ansiosos pela “ilusão celeste”, e deixa-lo fruir de sua graça, de sua alvura, de seu aveludado.
Antes disso, porém, Cyrano de Bergerac, inflado pela perspectiva do encontro com aquela mulher, sentindo-se mais forte que um Hércules ou Sansão, irá colocar Lignière em sua cama, um pobre trovador bêbado. Entretanto, até que venha a colocar o homenzinho descansando da bebedeira, no aconchego de sua casa, Cyrano terá que lutar contra cem homens. Aqueles mesmos que querem impedir o cantor de entrar em sua casa. Sai pelas ruas de Paris, perto do Sena, eufórico, invencível, ao encontro de seu destino...
“E haveis de assistir... ao que haveis de assistir!” Diz, um pouco sem palavras para definir sua senda. Viver, para Cyrano e para nós, tem muito de acaso... aquele mesmo do amor.
quarta-feira, novembro 11
"O rei reina, mas não governa"! E o Lula?
Foucault, no Segurança, território, população, cita L.-A.Thiers (em artigo escrito em 1830), na aula de 23 de fevereiro de 1978, para lembrar que em certo momento da história a soberania sobre o território passa a ser o governo de populações. Diz ele: "Poderíamos acrescentar ainda o seguinte: quando falei da população, havia uma palavra que voltava sem cessar - vocês vão dizer que fiz de propósito, mas não totalmente talvez -, é a palavra 'governo'. Quanto mais eu falava de população, mais eu parava de dizer 'soberano'. Fui levado a designar ou a visar algo que, aqui também, creio eu, é relativamente novo, não na palavra, não num certo nível de realidade, mas como técnica nova. Ou antes, o privilégio que o governo começa a exercer em relação às regras, a tal ponto que um dia será [foi] possível dizer, para limitar o poder do rei, que 'o rei reina, mas não governa', essa inversão do governo em relação ao reino e ao fato de o governo ser no fundo muito mais que a soberania, muito mais que o reino, muito mais que o imperium, o problema do político moderno creio que está absolutamente ligado à população" (p99).
Me pergunto, e não sei responder (mas não custa perguntar, já que, como dizem os mineiros, perguntar não ofende) se no caso do Lula, não temos uma certa inversão da proposta foucaultiana: "Lula não governa, mas reina". Às vezes pela bufonaria, como quando responde a FHC, que questiona seu governo, com ataques hilários, dizendo que FHC estava despeitado por Lula não ter se dado mal na governança. Só mesmo, ao meu ver, um governo que se toma por um rei poderia dar-se ao luxo de não responder a um questionamento de suas práticas de governo - e fazer argumentação de cozinha ou de sala de estar em dia de jogo de buraco, na casa do amigo do primário. Como poderia um presidente responder como se fosse uma briga de comadres pelo melhor bolo de fubá, ou descer o nível da conversa ao fundo do inobservável, se não se sentisse inatacável como um rei, imperador, soberano. Lula deve ter realmente esse poder que o exime de uma discussão responsável, afinal, esperto como é, não se exporia a essa tagarelice surda. O povo o colocou no poder e ele sabe muito as técnicas de dirigir populações, conhece como ninguém os meandros da economia do poder e de como se manter nele e, finalmente, se diverte com seu reinado, já que governar, não estou certo de que o faça. Enfim, a população o colocou lá para que a governe, mas o que melhor ele sabe fazer é gozar da soberania. Que Foucault me perdoe a exorbitância a partir de seu texto!
Me pergunto, e não sei responder (mas não custa perguntar, já que, como dizem os mineiros, perguntar não ofende) se no caso do Lula, não temos uma certa inversão da proposta foucaultiana: "Lula não governa, mas reina". Às vezes pela bufonaria, como quando responde a FHC, que questiona seu governo, com ataques hilários, dizendo que FHC estava despeitado por Lula não ter se dado mal na governança. Só mesmo, ao meu ver, um governo que se toma por um rei poderia dar-se ao luxo de não responder a um questionamento de suas práticas de governo - e fazer argumentação de cozinha ou de sala de estar em dia de jogo de buraco, na casa do amigo do primário. Como poderia um presidente responder como se fosse uma briga de comadres pelo melhor bolo de fubá, ou descer o nível da conversa ao fundo do inobservável, se não se sentisse inatacável como um rei, imperador, soberano. Lula deve ter realmente esse poder que o exime de uma discussão responsável, afinal, esperto como é, não se exporia a essa tagarelice surda. O povo o colocou no poder e ele sabe muito as técnicas de dirigir populações, conhece como ninguém os meandros da economia do poder e de como se manter nele e, finalmente, se diverte com seu reinado, já que governar, não estou certo de que o faça. Enfim, a população o colocou lá para que a governe, mas o que melhor ele sabe fazer é gozar da soberania. Que Foucault me perdoe a exorbitância a partir de seu texto!
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