Bret tem as mãos de Cyrano entre as suas, comovido pela tristeza deste com sua desdita: um nariz por demais aparente, uma protuberância inaudita, um imenso membro no meio da cara, separando os olhos amiudados frente a tamanha deformidade. Tentando abrir em Cyrano alguma brecha para a crença no amor e que Roxane poderia ama-lo, apesar do nariz infernalmente atrevido, diz-lhe, com toda a sinceridade que pode reunir em si: “Não te aflijas! O amor é mero acaso!”
Não é a toa que dizemos que o amor é cego, talvez surdo; mudo certamente não! O amor carece até de inteligência! Talvez por isso Bret diz que o amor é uma sorte, um inesperado, uma fatalidade até, quando o coloca como obra do acaso. E dizemos, também, que a quem ama o feio bonito lhe parece, e é nisto que Bret aposta. Quando aquela mulher olhar para Cyrano, mesmo com aquele maldito vaso nasal, seu hilário apêndice olfativo, poderá acontecer um milagre e simplesmente amá-lo. Sem prestar atenção em sua tromba arreada, olhar para seus olhos honestos, ansiosos pela “ilusão celeste”, e deixa-lo fruir de sua graça, de sua alvura, de seu aveludado.
Antes disso, porém, Cyrano de Bergerac, inflado pela perspectiva do encontro com aquela mulher, sentindo-se mais forte que um Hércules ou Sansão, irá colocar Lignière em sua cama, um pobre trovador bêbado. Entretanto, até que venha a colocar o homenzinho descansando da bebedeira, no aconchego de sua casa, Cyrano terá que lutar contra cem homens. Aqueles mesmos que querem impedir o cantor de entrar em sua casa. Sai pelas ruas de Paris, perto do Sena, eufórico, invencível, ao encontro de seu destino...
“E haveis de assistir... ao que haveis de assistir!” Diz, um pouco sem palavras para definir sua senda. Viver, para Cyrano e para nós, tem muito de acaso... aquele mesmo do amor.
Alguém inapelavelmente embruxado pelos livros, cinema, teatro e outras artes, não necessariamente nesta ordem. Daí estes fragmentos de experiências. levileonel@yahoo.com.br Veja Também: https://avidanaserradocervo.blogspot.com https://psicologonobrasil.blogspot.com https://ateliedecorpo.blogspot.com
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Talvez o amor não seja cego. E cegueria seja não perceber o convite do amor , aquilo que é distante dos padrões universais de beleza. O amor é algo que arrasta, como as pedras que rolam pelo riacho e que de te tanto rolar despe-se das asperezas . O amor ...talvez seja isso... um outro movimento ...
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